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A memória, o que traz esperança

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Carta com ameaças, conflitos na rua: como vai a população cristã de países assolados pela guerra no Oriente Médio?

O dentista Shamir* olhava para a carta em suas mãos. Nela estava escrito que Shamir era impuro por não ser muçulmano. Dizia também que ele deveria sair do país imediatamente, caso contrário sofreria sérias conseqüências: se sua família não deixasse a casa em oito horas, morreria. Fúria e medo dividiram o íntimo do dentista. Deixar a casa que havia abrigado sua família por três gerações? Ele morou em Dora, distrito cristão de Bagdá, a vida toda. Quem essas pessoas pensavam ser?


Shamir se lembrou da história de um de seus vizinhos. Ele não foi embora quando a primeira carta chegou. Depois de alguns dias, homens armados vieram e mataram o cachorro da família. Esse vizinho deixou o lugar no mesmo dia. Dentro de poucas horas, uma família muçulmana se mudou para a casa

O dentista pegou o DVD que estava dentro do envelope e foi assistir. O filme começava com alguns versos do Alcorão. Então apareceu um jovem ajoelhado. Ele foi interrogado por um homem armado, com um capuz na cabeça. O jovem disse que era cristão, vivia e trabalhava em Bagdá. Em seguida, o homem armado disse que o mataria

Shamir não ouviu os passos de sua esposa se aproximando. “O que você está vendo, Shamir?”, perguntou ela. Sua pergunta, entretanto, não obteve resposta. O dentista sentiu náuseas. Diante de seus olhos, o jovem do DVD foi decapitado. Sua esposa também se sentiu mal. “Temos de ir”, sussurrou. “Pegue só o que for realmente necessário.”

Dentro de seis horas, o carro estava carregado. Shamir dirigia como um louco. Aonde ir, Síria ou Jordânia? Será que ele teria permissão de entrar lá? Não tinha certeza. Shamir decidiu ir para o norte, o Curdistão. Alguém lhe disse que lá era mais seguro

Algumas semanas depois, Shamir estava alojado em um conjunto habitacional no Curdistão. Ele e seu novo vizinho, um ex-professor, tentavam ordenhar uma cabra, mas nenhum dos dois tinha experiência nisso. Shamir estava sujo, suado e, acima de tudo, frustrado

Como sobreviveria naquele lugar? Seus filhos ficavam à toa, em volta da casa. Eles não podiam ir à escola, porque não falavam curdo. Shamir suspirou. O que seria dele e de seus filhos?

Felizmente o dentista recebeu uma casa para morar na nova região. Apesar das boas vindas e da casa relativamente espaçosa, a família não tinha provisões para o inverno, como aquecimento. E o inverno deve ser bastante rigoroso nessas montanhas..

A história de Shamir é uma entre milhares. Ele e sua família são refugiados iraquianos dentro do próprio país. Diariamente três mil pessoas fogem para o norte do Iraque; 40% delas são cristãs. Dora, bairro de

Bagdá, era tradicionalmente uma área cristã. Agora quase não abriga mais os cristãos de origem assíria

Taxa para ser cristão

A guerra no Iraque completou quatro anos no mês de março. Em novembro do ano passado, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados estimou que 1,8 milhão de iraquianos haviam fugido para países vizinhos, e que 1,6 milhão foram para outras regiões do país. Aproximadamente cem mil iraquianos vão para Síria e Jordânia a cada mês. A população atual está estimada em 27,5 milhões de pessoas

Em 2007, o número de iraquianos refugiados e desabrigados superou o de qualquer outra nação. Até agora, mais de 3,9 milhões de pessoas – mais de 15% da população – teve de fugir em conseqüência da guerra. Boa parte dos que ficam para trás é impedida de ir embora por falta de condições financeiras

Há conflitos paralelos à guerra. Forças xiitas e sunitas travam confrontos nas ruas da cidade de Bagdá, principalmente no bairro cristão de Dora. O surgimento de grupos islâmicos extremistas, alguns deles ligados à rede terrorista Al Qaeda, tem infligido terror à população, até aos muçulmanos. Postos de checagem montados no meio das ruas só dão passagem às mulheres que estiverem usando véu. Esses mesmos extremistas cobram dos cristãos o pagamento de uma taxa, a jizya, para praticar sua religião. Em Bagdá, particularmente, há grupos interessados em acabar com a população cristã da cidade

Os casos mais representativos e extremos da violência no Iraque são os numerosos seqüestros. Antes, eles estavam restritos à capital, mas agora se desdobram nas diversas cidades do país

Obreiros da Portas Abertas conheceram um homem proveniente da região de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, localizada no norte do país. Ele compartilhou que um grupo extremista cobrou de seu cunhado uma taxa de quatro mil dólares, a ser paga por dois anos, para continuar com seu negócio. Esse cunhado foi seqüestrado e seu resgate estipulado em 600 mil dólares. A família só conseguiu levantar 150 mil, os extremistas acharam que não era bastante. Muitas negociações foram feitas, mas o cunhado acabou assassinado

Eventos assim são comuns. Muitas famílias no Iraque tiveram um de seus membros seqüestrado ou assassinado nos últimos dias

"Com Deus é a glória, aqui é outra história"

A Igreja iraquiana não é a única do Oriente Médio a padecer o fogo cruzado entre grupos extremistas ou exércitos. O caso mais clássico da região é a alongada guerra territorial entre israelenses e palestinos

Em geral, no Oriente Médio, ser cristão não-histórico (ou seja, não fazer parte das etnias cristãs que vivem na região há séculos) significa estar aliado ao “ocidente cristão” que luta contra povos árabes e apóia a construção do muro que separa áreas israelenses de palestinas

Uma vez que as políticas ocidentais são conhecidas como cristãs, a guerra no Iraque e a opressão do povo palestino são consideradas atividades cristãs. Assim, os crentes nativos sofrem duas vezes: por viver em meio à guerra e por ser cristãos. (Saiba mais sobre o assunto na seção Cara a cara, página 12)

Em Gaza, maior cidade do território palestino, a situação é ainda mais tensa. Em junho deste ano, uma luta armada entre os partidos Fatah e Hamas nas ruas da cidade impedia a população de sair de casa – no entanto, até dentro de seus lares as pessoas podiam ser feridas. O prédio da Igreja Batista de Gaza foi, na época, confiscado pelo Fatah. Depois de dias de luta e tiroteios, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza. As forças do Fatah deixaram o edifício e muitos prejuízos para trás

Historicamente falando, os cristãos nunca foram maltratados ou discriminados sob a Autoridade Palestina. No entanto, desde que o Hamas assumiu o poder, o modelo do regime mudou, e os cristãos se sentem menos seguros. Agora eles são ameaçados por causa da identidade cristã. O Hamas é conhecido internacionalmente por atividades terroristas. O seu braço político venceu as eleições em Gaza no começo deste ano

O futuro da cidade está em suspenso, ninguém sabe o que pode vir a acontecer. O boicote que governos do ocidente e de Israel impuseram ao Hamas fez com que dinheiro e provisões ficassem escassos. O turismo, fonte de renda, caiu drasticamente, e muitas pessoas estão desempregadas. Aqueles que trabalham – como os funcionários públicos, por exemplo – estão sem receber seus salários há meses, pois o governo não tem dinheiro para pagá-los. Os palestinos que trabalham em Israel têm enormes dificuldades para atravessar o muro. O resultado de tudo isso é o aumento da pobreza. As pessoas, quando têm oportunidade, deixam o país, em especial os cristãos. Um cristão palestino resumiu bem o momento: “Viver com Deus é a glória, viver aqui é outra história”

No lado israelense, a situação não é melhor. Se alguém crer que Jesus é o Messias, não será bem aceito como cidadão. Se esse alguém já mora em Israel, e sai por qualquer motivo, pode ser impedido de entrar novamente no país

Em Israel, a pobreza aumenta a cada dia, mas por outras razões. São cobrados altos impostos para que a segurança seja mantida e também para cobrir os custos com a guerra. Há um clima de instabilidade no ar, uma vez que o governo israelense está fraco internamente, é alvo de críticas por causa de sua política e sente-se ameaçado com a união de países islâmicos

Salvo pela cruz

Qual será o futuro da Igreja no Iraque e na Palestina? Ninguém sabe. Do ponto de vista humano, não há esperança. Apenas Deus pode responder a nossa oração e mudar o curso dessas nações. E isso de fato tem acontecido, mesmo com a guerra ao redor

Um obreiro da Portas Abertas esteve no Iraque e afirmou que, apesar das dificuldades, há algumas melhoras. A venda de livros cristãos cresceu bastante. Materiais para crianças e materiais de estudo são os mais procurados. A quantidade de Bíblias vendidas anualmente ainda é a mesma dos outros anos, mas parece que os cristãos iraquianos querem conhecer mais profundamente a Palavra de Deus. Em 2006, a Portas Abertas entregou 35.264 livros cristãos

Esse obreiro contou como Deus trabalha mesmo em meio à violência. “Um taxista muçulmano dirigia por Mosul e, quando deixou um cliente cristão, percebeu que o homem havia esquecido sua corrente. O taxista decidiu usar a corrente, que tinha uma cruz. Mais tarde, naquele mesmo dia, foi parado por homens armados, que lhe perguntaram: ‘Você é sunita ou xiita?’. O taxista sabia que, se desse a resposta errada, atirariam nele. Ele pensou e respondeu: ‘Nenhum dos dois, eu sou cristão. Aqui! Olhem!’. E apontou para a cruz na corrente. Os homens riram e disseram: ‘Não acreditamos em você, mas pode ir embora’. Quando chegou em casa, o taxista disse à sua esposa: ‘Jesus me salvou!’. Naquele dia, ele entregou sua vida a Cristo.”

Tamanha dificuldade no Iraque tem atraído alguns cristãos ao Senhor e despertado a curiosidade de um punhado de muçulmanos em relação ao cristianismo. Eles se perguntam: “É disso que o islamismo trata? É isso o que queremos? Foi isso o que nos prometeram? Não, isso não é paz, não é atrás disso que estamos”. Assim, os iraquianos saem em busca de respostas às suas perguntas e acabam se aproximando do Senhor

Na Palestina, os resultados parecem ser os mesmos. Um irmão palestino escreveu que as pessoas buscam a verdade mais do que nunca. Muitos palestinos, desapontados com o islamismo, estão atrás de respostas e esperança. Por outro lado, os cristãos nominais, cientes de que são uma minoria religiosa, querem saber melhor no que crêem

Em Israel, o movimento messiânico (judeus que confessam Jesus como o Messias) está crescendo em número e força. Há novidades nos trabalhos com jovens, em aconselhamentos e evangelismo. Os judeus messiânicos estão alcançando outros. Ministérios de reconciliação, como o Musalaha (leia mais sobre ele na próxima página) expandem e semeiam a cura de traumas e inimizades

Interceda por esses países. Que sua população experimente a paz pregada pelo evangelho: a paz que excede todo entendimento, a paz com Deus que nos faz ter paz com todos os homens

 

Publicação de: Portas Abertas (www.portasabertas.org.br)
[30/09/2007]
 



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